sábado, 18 de dezembro de 2010

Metro destronou rivalidades políticas na Assembleia Municipal

(Notícia do Diário de Coimbra, 18 de Dezembro de 2010)

PS e coligação Sempre Mais e Melhor uniram-se em torno do projecto, numa sessão que contou com as presenças de Álvaro Maia Seco e João Pedro Trovão de Coimbra.

Terá sido, talvez, das poucas assembleias municipais da história de Miranda do Corvo em que os deputados deixaram os rivalismos partidários à porta do auditório da Câmara Municipal, antes de começar a sessão.
Na quinta-feira, dia em que se assinalaram 104 anos da inauguração do Ramal da Lousã, os interesses do concelho abafaram as cores políticas, podendo mesmo dizer-se que se houvesse uma cor predominante seria certamente verde, a cor a que foi assinalada a Linha da Lousã no projecto do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), e o troço que a Assembleia Municipal de Miranda quer ver imediatamente executado.

A população também esteve representada, e entre o público assinalou-se a presença do ex-presidente da Metro Mondego (MM) SA, Álvaro Maia Seco, na qualidade de vereador da Câmara Municipal de Coimbra, e João Pedro Trovão, da Comissão Política do PS de Coimbra.

Álvaro Maia Seco defendeu que o SMM tem de ser encarado como «projecto intermunicipal» que é, apelando ao consenso entre os três municípios envolvidos, para que o processo termine da melhor forma. «A situação é de tal maneira grave, que só tem alguma possibilidade de ser resolvida se for possível estabelecer uma posição comum, unânime, muito forte, uma solução apartidária», referiu o vereador da Câmara de Coimbra, alertando para o facto de que, neste momento, «qualquer divisão partidária resultará inevitavelmente num insucesso total de qualquer diligência».
Para Álvaro Maia Seco é imprescindível que «haja uma posição comum supramunicipal», sendo, para isso, necessário «encontrar uma plataforma comum mínima, em que toda a gente se reveja suficientemente para a defender com intransigência». A não ser assim, o ex-presidente da MM garante que a tutela «dificilmente acatará qualquer tipo de iniciativas individuais dos municípios».

Explicando novamente a proposta pessoal de fasear o projecto em três etapas, concluindo a primeira fase, de Serpins a S. José, em 2013, a segunda, até Coimbra B, em 2015 e a terceira, até ao hospital, em 2017, Álvaro Maia Seco afirmou já não ser possível passar ao lado do PEC, pelo que defendeu que a solução a adoptar «tem de ser inatacável», com um «programa de investimentos credível» e «tecnicamente defensável».

PS e PSD/CDS-PP unidos
Nas bancadas imperou o consenso, com o PS e a coligação Sempre Mais e Melhor a defenderem a execução imediata do projecto, «pelo menos até Coimbra Parque», para repor o sistema que foi desmantelado para a chegada do metro. Socialistas e social-democratas repudiaram a implementação de um sistema que não seja ferroviário, mas até admitiram aceitar «a recalendarização da obra», bem como a racionalização de alguns custos, tendo o PS defendido a sugestão de Álvaro Maia Seco de alugar, inicialmente, o material circulante à Metro do Porto SA, poupando mais de 95 milhões de euros.

A revolta pelo marasmo em que se encontra o projecto também foi uma constante nas duas bancadas, com o social-democrata Paulo Silva a salientar que «não podemos parar com esta luta até que se faça justiça e se reponha o Ramal da Lousã». «Se tudo o que se escreve, se todas as moções e entrevistas não forem suficientes, proponho que passemos para novas medidas que podem passar por vigílias, por acções na linha, ou até bloqueios à cidade de Coimbra ao nível dos transportes», destacou Paulo Silva. Ainda na bancada laranja, José Taborda defendeu que «é hora de tocar os sinos a rebate». «Se o Governo não continuar a obra, então que reponha o que estava, não posso acreditar que vou deixar de ouvir um silvo, para ouvir buzinas onde circulava o comboio», lançou, aludindo à intenção da tutela de implementar um metro-bus no ramal.

Do lado dos socialistas, o líder da bancada, Eduardo Barata declarou que «importa gritar bem alto, e a uma só voz, que a mera possibilidade da não concretização da obra desta ferrovia, em tempo útil, envergonha quem a coloca e constituirá, porventura, o mais infame atentado contra as populações perpetuado pela administração central».

PS e PSD/CDS-PP exigem a responsabilização dos culpados e aprovaram, por unanimidade uma moção comum para a defesa do projecto.

A destacar, ainda, esteve a intervenção de um dos cidadãos presentes, Luís Correia, que sugeriu mesmo que se avance para formas de luta mais revolucionárias. «Ou os presidentes das câmaras entregam as chaves ao Presidente da República e fecham as câmaras por um tempo, ou os senhores presidentes boicotam as eleições presidenciais e não votam», sugeriu o munícipe, desabafando que «talvez as pessoas se manifestem» desta forma.

Assembleia Municipal da Lousã exige reposição da linha
Apesar de ser uma Assembleia Municipal com vários pontos em discussão, o metro dominou as intervenções dos deputados lousanenses numa sessão que foi pouco consensual, com o PSD e o BE a responsabilizarem o executivo municipal PS, pelo arranque da linha sem a garantia s de concretização do projecto.
«Ou o Governo tem condições para concluir o projecto, ou então o executivo deve defender a reposição da linha como estava», lançou o social-democrata Pedro Curvelo. Rui Correia (PSD), por seu turno, salientou o dinheiro já investido no projecto bem como os investimentos em curso para outras grandes obras no país.
«Há 695 milhões de euros de fundos europeus só para a primeira fase do TGV. Com 25 milhões não se fazia o ramal?», questionou. Já o bloquista Paulo Moura criticou o despesismo praticado pela Sociedade Metro Mondego durante os últimos 15 anos, exigindo responsabilidades do executivo municipal. «Não se admite que em todo este processo nunca se tenham ouvido os outros partidos», referiu.
Na bancada socialista predominou o apelo à defesa do projecto em detrimento de uma «caça às bruxas» para apurar culpados. «Todos estamos a sofrer com esta política nacional, o projecto metro é mais um que foi apanhado nesta enxurrada de situações», referiu Rui Lopes (PS), tendo João Melo (PS) defendido que «é bom que consigamos deixar claro o que nos divide e o que nos une e que tentemos chegar a pontos de união». E o que une PS, PSD e BE é a exigência da prossecução do projecto, renunciando a qualquer sistema que não seja de carácter ferroviário.

Em resposta, Fernando Carvalho defendeu que «tem havido uma inabilidade política do tamanho de um autocarro», na análise deste projecto, mas que ainda assim não desiste de pôr o metro nos carris. «Não é mais uma dificuldade que me fará arrumar as malas, estou habituado a elas», concluiu.

A Assembleia Municipal aprovou, por unanimidade, uma moção do BE em que exige ao Governo «que reveja a decisão de suspender as obras no Ramal da Lousã e que retome os investimentos previstos, assegurando o cumprimento do calendário das empreitadas com o mínimo atraso possível.

Serpa de Oliva reuniu com as câmaras de Lousã e Miranda
O deputado do CDS-PP, eleito por Coimbra, João Serpa de Oliva reuniu com os autarcas de Miranda do Corvo e Lousã, Fátima Ramos e Fernando Carvalho, nos dois concelhos do Pinhal Interior, com o objectivo de programar acções com vista à defesa da continuidade do projecto, atendendo à recente supressão das obras de via-férrea e catenária no Ramal da Lousã.

Tanto o deputado do CDS-PP como os dois autarcas concordaram ser inaceitável a suspensão da obra e defenderam a necessidade de se realizarem urgentemente acções concertadas, de modo a garantir a sua conclusão e, sobretudo, o bem-estar das populações envolvidas que, de um momento para o outro, se viram privadas de um meio de transporte essencial.

No âmbito desta questão, João de Serpa Oliva irá ainda solicitar uma audiência ao presidente da Câmara de Coimbra.

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