quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Reviver Sebastião da Cruz Lopes

Sebastião foi um homem que viveu para Miranda. Desde muito novo que começou por ser um colaborador activo das suas Associações. Pessoa afável, bem-humorada e sempre disponível tornaram Sebastião uma presença quase obrigatória em todas a iniciativas que iam acontecendo em Miranda.

Ao Mirandense, aos Bombeiros, ao Grupo Recreativo e a tantas outras Associações de Miranda sempre respondeu presente quando dele necessitaram.

Sebastião era um inconformado. Nascido no tempo da ditadura de Salazar, cedo viu as dificuldades que as pessoas sentiam no seu dia-a-dia.

O seu lado humanista falou mais alto tornando-o crítico do regime instalado. Com o aparecimento do movimento de apoio a Humberto Delgado para Presidente da República, Sebastião viu a oportunidade de mudança, apoiou o movimento com todo o seu entusiasmo, participando em comícios onde chegou a usar da palavra.

Chegou o 25 de Abril e com ele a esperança de mudança que todos ansiavam. Sebastião não fugiu à regra. Democrata convicto recebe o acontecimento de braços abertos.

Aceitou fazer parte da comissão administrativa que ficou a gerir os destinos da Câmara Municipal. Acompanhado por um pequeno grupo de camaradas filia-se no Partido Socialista criando assim a secção de Miranda do Corvo.

A sua residência e o estabelecimento da família, o conhecido Café Dueça, foram a primeira sede local do Partido.

Com o apoio de um pequeno grupo de militantes trata de organizar a secção e aumentar o número de militantes e simpatizantes. Na vila o entusiasmo é grande, mas nas aldeias mais distantes ainda prevalece o medo. Mas Sebastião não esmorece.

O seu entusiasmo e militância contagiam todos os que o acompanham. Pouco a pouco, o Partido vai-se implantando por todo o concelho, ganha dinâmica e nas primeiras eleições consegue uma vitória esmagadora.

Mas Sebastião, que foi o grande obreiro da onda Socialista que assolou o nosso concelho e se mantém até hoje, continua com a humildade de sempre e a serenidade que dá o sentimento do dever cumprido.

E sempre assim se manteve. Serviu o Partido Socialista até à sua morte sem nada reclamar para si. E quando algumas vezes lhe perguntaram se tinha preferência por algum lugar nas listas de candidatos para a Autarquia, a sua resposta foi sempre a mesma “qualquer lugar me serve, quero apenas ajudar.

Era assim Sebastião. Conhecedor profundo da sua Miranda, a sua alegria era servi-la, à sua gente, às suas instituições sem nada reclamar. Amigo de todos sem distinguir crenças religiosas ou políticas, Sebastião serviu sem se servir. Outros tempos, outras vontades.

(Joaquim Godinho Soares, Sebastião N.º 1, Novembro de 2008)

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