segunda-feira, 6 de abril de 2009

Tarde é o que nunca vem!

O Sr. Zulmiro, foi o maior republicano de que alguém da minha geração se lembra em Miranda do Corvo. Não figura na toponímia mirandense mas foi através dele que sempre recordámos o dia da implantação da República, sabendo contar direitinho toda a história romanceada e vibrante que envolveu essa transição, que ele tão bem comemorava, da monarquia para a república. Este homem foi, durante muitos anos, uma ajuda preciosa para os mirandenses, ele era estafeta de profissão, passava os dias no comboio entre Miranda e Coimbra, fazendo todos os recados que as pessoas lhe pediam. Era assim que ganhava a sua vida! Entre as imensas estórias interessantes que contava aos estudantes que sempre o rodeavam, havia aquelas em que a vedeta era ele e que nós presenciávamos completamente estupefactos.
Um dia um sujeito passou o tempo da viagem a insultá-lo, chamou-lhe tudo e mais alguma coisa e o Sr. Zulmiro continuou estranhamente imperturbável a ler a “República” e a fumar o seu cigarro de mortalha. Chegados à estação de Coimbra, o homem continuava a desfiar a sua lista de nomes feios, o Sr. Zulmiro levantou-se para sair e apenas lhe disse “ Olhe, pode continuar a falar mas eu não tomo conhecimento!”
Lembrei-me desta estória porque, ao colocar a vida em ordem, dei com o dossier dos artigos e passei os olhos por eles. Há coisa de um ano, fui presenteada da “Tribuna” deste jornal com verdadeiros insultos pessoais! Dizia o autor do alto da sua imensa sabedoria que eu em vez de escrever “umas coisas” sobre Miranda deveria estar atenta nas sessões de câmara e nas assembleias, participar em convenções. Que além de tudo, demonstrava uma “santa ignorância” sobre a realidade do concelho, enfim, um artigo encomendado, recheado de “piropos” encomendados. Pensei no Sr. Zulmiro e segui o seu exemplo, não tomei conhecimento!
Por isso não respondi. Foi o que fiz de melhor porque a resposta veio com o tempo e se a vaidade não cegar pode ser que o seu autor enxergue!
No meu artigo falava das “águas ruças”, originadas pelas descargas no Rio Ceira. A minha crítica ia primeiro para os poluidores mas também para a Câmara Municipal que recebia dinheiro para vender água pura e vendia água poluída. Uma crítica legítima feita num espaço da minha responsabilidade. Único problema, toquei nos que se julgam intocáveis e isso é “pago” até à última letra. Não foi uma resposta técnica, foi uma resposta que listou diligências de quem está nos locais de decisão para isso mesmo, para trabalhar em benefício dos munícipes. Mesmo à distância é agressiva e insultuosa.
Talvez desse jeito “continuar” um pouco desatenta pois assim não teria ouvido tantas críticas feitas à Câmara, ao péssimo estado da água que se vai consumindo um pouco por todo o concelho, não é só a montante! É nos Casais, é em Godinhela, é em Vila Flor, é nos Meroucinhos, é nas Meãs. Afinal há água imprópria em muitos locais e o curioso é que todos estes lugares foram denunciados publicamente, irrefutáveis! Justiça seja feita, a qualidade é tão má nalguns locais que já foram presentes à sessão duas propostas de isenção de pagamento da água e que foram aprovadas por unanimidade. Justo seria proceder da mesma forma em todo o concelho onde ela é imprópria para consumo!
Para não ser acusada de denegrir a imagem do concelho, como também é costume acontecer quando faço uma crítica, fica a mensagem para aqueles que vivem em Miranda e para os que pretendem cá viver, lá para o final do ano temos água potável e em quantidade. Valham-nos as Águas do Mondego que não tardam! Possivelmente uma inauguração a norte do concelho porque é onde ela vai chegar primeiro. Em Outubro tudo tem de estar a postos, há eleições e tarde é o que nunca vem!
Ana Gouveia
02/04/2009
texto publicado no jornal "As Beiras"

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