A consciência de que é necessário preservar o património monumental e cultural está cada vez mais interiorizada nos responsáveis pelas autarquias e em cada um de nós.
A carta de Amesterdão em 1975 veio chamar a atenção colectiva, pela primeira vez, para o avançado estado de deterioração dos centros históricos na Europa, tornando-se um ponto de partida para a criação de políticas de reabilitação.
Também por cá se começou a investir na recuperação dos centros históricos porque a degradação está a acabar com a nossa memória, avançando a olhos vistos, mas o investimento na habitação tem um peso diminuto na despesa pública.
Apesar de recentemente sujeito a obras de beneficiação de pavimentos, nova iluminação e recuperação de um edifício público, não é preciso subir muito alto para constatar a situação de ruína dos imóveis no chamado centro histórico de Miranda do Corvo.
É um aglomerado que desce da igreja ao rio, numa sequência de casas que identificamos ainda com os primeiros proprietários, muitos dos quais mantinham ligações sentimentais com os seus prédios e com os seus vizinhos.
Se já muitas sofreram grandes ou pequenas reparações, outras há que nunca mais foram intervencionadas e neste momento estão em completa ruína. Os telhados já há muito abriram grandes buracos e as paredes frágeis tentam aguentar o que noutros tempos foram casas fervilhantes de vida.
Além do envelhecimento e abandono, a desertificação é um problema que tem de ser combatido rapidamente. Na Avenida José Falcão, sala de visitas da vila, habitam duas famílias. O que subsiste nesta artéria, o comércio, não tarda também a desaparecer porque grande parte dos estabelecimentos comerciais fica por baixo de imóveis degradados. Alguma vitalidade que ainda lá existe é devida à presença de serviços municipais. É assustadora a falta de investimento!
Ao nível do Estado, são diversos os programas criados para ajudar os proprietários a recuperar os imóveis e a repovoar os centros mas as suas limitações tornam-nos quase inacessíveis. Fala-se de um novo programa que vai valer por todos, esperemos para ver. As políticas de financiamento são desadequadas, não passam de panaceias, não resolvem problemas.
Neste contexto recupera-se para remediar. A procura do arrendamento é diminuta apesar de ser a única alternativa para a ocupação dos imóveis. Ter um prédio para rendimento já foi chão que deu uva… as rendas estão cada vez mais distantes do valor necessário à manutenção e a apetência do mercado para adquirir imóveis degradados é pouca. Os novos habitantes nas zonas históricas são pessoas que procuram casas baratas para viver (estratos sociais em risco), solução provisória de residência e alguns que gostam de desfrutar destes sítios por razões culturais.
O aproveitamento turístico é uma vertente a considerar, passa pela autarquia divulgar todas as potencialidades. A proximidade a Coimbra e o aumento de população que demanda habitação, são argumentos de peso para atrair à zona histórica potenciais clientes. As infra estruturas existentes para a educação dos filhos, as colectividades com actividades culturais, desportivas de competição e lazer contribuem para chamar pessoas a instalarem-se, de forma a tornar o centro apelativo e competitivo sem as ruínas actuais, com a qualidade de vida que se deseja para todos.
Outra mentalidade vai emergir seguramente. Com a pesada carga de impostos e as taxas de juro a subir não vai haver espaço para endividamentos. Como já é prática nos países nórdicos, não tarda a que as pessoas percebam que o mais fácil é arrendar casas, com as vantagens que daí advêm: não pagam IMI, não agravam o IRS, não pagam condomínio, podem mudar com frequência adaptando as casas às várias fases da vida. O contra argumento é que pelo menos um dia vão ser proprietários e em casas arrendadas nunca serão. Pois não direi eu, mas passaram uma vida descansada. Sem impostos para pagar várias vezes ao ano e sem obras para fazer. Sorrindo para a humidade que atravessa as paredes e pensando que daí a uns dias poderão estar noutra com muito melhores condições.
Texto da autoria da vereadora do PS, Profª Ana Gouveia, publicado no Diário As Beiras.
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