segunda-feira, 9 de junho de 2008

Relatividade- Filhos e enteados


Não, não se trata da Teoria de Einstein que provocou profundas alterações na física clássica, nada de expectativas, trata-se simplesmente da constatação de factos que vamos relacionar porque têm origem na mesma empresa e merecem a nossa reflexão.
As expropriações de terrenos a particulares são reconhecidamente necessárias à causa pública. Tomadas as decisões para as obras é iniciado o difícil e moroso processo de expropriações. Difícil, porque os valores atribuídos às propriedades nunca são os esperados pelos proprietários que, sentindo-se espoliados, recorrem aos tribunais para defender os seus direitos.
Vamos aos factos.
As Águas do Mondego estão a iniciar em Miranda do Corvo os trabalhos de abastecimento de água à vila. A empresa que trata das expropriações está a fechar os contratos com os proprietários a dois euros o metro quadrado por terrenos de reserva florestal.
Para começar de uma forma positiva destacamos o preço unitário dos terrenos, igual para todos o que não provoca discórdia,
O ponto negativo tem a ver com a perspectiva do copo meio cheio e meio vazio. Para o expropriante o terreno é bem pago, para o expropriado está abaixo do seu valor.
Analisando do lado do proprietário é o investimento de uma vida, um rendimento que passa de geração em geração como um pé-de-meia para uma necessidade mais premente.
Em contraste com a sovinice destas expropriações está o relatório e contas da empresa de 2006 e aí começamos a pensar melhor e a fazer outro tipo de contas ao verificarmos as elevadíssimas remunerações atribuídas aos membros dos órgãos de administração da Sociedade.
Para parte deles esta não é a sua principal ocupação e interrogamo-nos para que é preciso tão alargada administração pois alguns só se devem conhecer numa ou noutra reunião, para fazer jus à remuneração e regalias…
Vamos então ver o que cada um recebeu: Presidente do Conselho de Administração 15.614,36 euros; Administrador executivo I 86.508,66 euros; Administrador executivo II 71.904,45 euros; Administradores não executivos I e II 11.944,52 euros. Vendo ainda melhor, os directores não executivos recebem quase mil euros mensais por fazerem parte, por inerência de funções, desta grande empresa.
Onde está afinal a moral da história? Os terrenos fundamentais para as obras, sem os quais elas não seriam possíveis e que significam muito para os seus proprietários é oferecida “tuta-e-meia”. A informação que se faz passar é de que são muito bem pagos, que nem vale a pena recorrer à justiça porque é só gastar dinheiro e não se adianta nada, isto é, come e cala! Por outro lado, o administrador não executivo recebe, cada mês que passa, o equivalente a um terreno de quinhentos metros quadrados!
Tudo é relativo: é fundamental o abastecimento de água potável às populações, são importantes os cargos e a remuneração atempada dos administradores, que se lixem os proprietários que ficam sem os terrenos e que no futuro vão pagar a factura da água ao mesmo preço que os outros, ao menos que seja potável!
Texto da autoria da vereadora do PS, Profª Ana Gouveia, publicado no Diário As Beiras.

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