segunda-feira, 9 de junho de 2008

XVII Expo-Miranda (2)

Longe de mim estar hoje a repisar o mesmo tema de há quinze dias mas enfim, preciso rebater algumas ondas de choque que se formaram. Ondinhas direi eu, porque o choque não foi muito grande, a “bomba”, leia-se o artigo de opinião, não era de muita potência. Pensava eu que quase inócuo. Mas não, o facto de ter chamado a atenção para duas ou três coisas sobre o evento em epígrafe, parece que cometi um crime de Lesa-majestade. Tive direito a umas indirectas numa sessão solene, essa é que é essa! Pena foi que só descodificou as mensagens quem leu o artigo do dia anterior, não foram muitos na sala mas foram alguns.
Já poucas coisas me amedrontam.... Também não tenho o rabo preso em lado nenhum e para ter sucesso nas áreas em que me movimento tenho de dar o litro, suar as estopinhas.
Sou uma Mirandense que só foi nascer a Coimbra porque já nessa altura era um bocado atravessada e não nasci em casa como os meus irmãos. Tenho servido, desde sempre as gentes da minha terra dentro das minhas possibilidades e conhecimentos. Tenho, por estes motivos e por muitos outros que seria desinteressante enumerar, legitimidade para criticar ou chamar a atenção para o que me apetecer sem ter de ser recriminada por isso.
Tudo a propósito da XVII Expo-Miranda que ousei criticar porque o certame derivou completamente dos objectivos que levaram à sua criação.
Quando escrevi o artigo, acentue-se de opinião, ainda não tinha aberto a Expo, motivo pelo qual, procurei ser cautelosa e dar o benefício da dúvida à autarquia e à organização. Depois de uma primeira visita, na abertura, verifiquei que fui demasiado benevolente, quase caricata.
É verdade, referi-me à parte festivaleira e nem esta se salvou dos escombros. O que marcou pontos foram as tasquinhas. Umas mais que outras, porque não é fácil estar ao lado dos Bombeiros de Miranda que, pela causa que abraçam, pela simpatia que granjeiam e pelo dinamismo que imprimem à sua actividade, são imbatíveis. Outros houve que não ganharam para o gasto da deslocação.
Mas continuemos, a indústria foi quase invisível, ou seja, foi o reflexo perfeito da zona industrial que temos. Não posso dizer que não esteve lá nada representado mas posso garantir que foi quase nada. O comércio estava representado através de pouquíssimos comerciantes alguns dos quais nem sequer eram do Concelho.
As colectividades e escolas continuaram a marcar presença com as suas exposições, muitas delas com muito bom gosto e imaginação.
Tirando os pequenos grupos que se juntavam à volta das suas colectividades e as enchentes à hora dos dois espectáculos mais mediáticos, pode-se dizer que a feira estava muito triste. Para não falar de casos de muito mau gosto que ocorreram, pouco dignificantes para o certame mas dos quais me abstenho de falar porque estão a ser deslindados para se apurarem responsabilidades.
Os jornais já transcrevem o pensamento dos responsáveis quando fazem o balanço, falam do carácter lúdico e da vertente mais cultural do evento, o que significa que no artigo que escrevi tive razão.
Como as anteriores, estas críticas poderiam servir para melhorar, para repensar seriamente as próximas mostras.
Ninguém é indiferente a críticas. Uma forma de conviver com elas é usá-las para aprender, melhorar e corrigir.
Caem em saco roto nas pessoas que só olham para o seu umbigo porque pensam que são os donos da razão. Aos que só ouvem os que os rodeiam, os apaparicam e os bajulam com medo de perder algum tacho ou de parecerem ingratos.
Miranda não vive só de inaugurações ou outras festas com música e foguetes. Essa é a parte que recria o espírito de quem trabalha e precisa de descansar e de se divertir, uma parte imprescindível mas não vital. Miranda precisa de uma Expo que a dignifique, onde estejam presentes a sua cultura, as suas tradições mas que tenha uma parte comercial e industrial saudável e robusta.
O seu povo precisa de muito mais investimento que gere emprego. Precisa de melhores, muito melhores, condições para agarrar as suas gentes à terra e para acolher as pessoas que a demandam à procura de uma vida com qualidade.
Texto da autoria da vereadora do PS, Profª Ana Gouveia, publicado no Diário As Beiras.



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